Agressão de PMs contra homem que passeava com gatos não condiz com a corporação, afirma coronel
- 22/12/2024
Inquérito policial militar foi instaurado para investigar o caso que ocorreu em Santos (SP). Os dois agentes envolvidos foram afastados das funções operacionais e do atendimento ao público. Ueslei Abreu das Neves ficou com hematomas pelo corpo após agressões em Santos (SP) Arquivo Pessoal O coronel Rogério Nery, do Comando de Policiamento do Interior Seis (CPI-6) da PM na Baixada Santista e Vale do Ribeira, afirmou que as agressões de dois agentes contra o petroleiro Ueslei Abreu das Neves não condizem com os princípios, valores e procedimentos da corporação. O morador de Santos, no litoral de São Paulo, alega ter sido vítima de racismo e espancamento na abordagem. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp. As agressões ocorreram no estacionamento de uma farmácia na Avenida Marechal Floriano Peixoto, no bairro Gonzaga, enquanto Ueslei passeava com os gatos de estimação. Ao g1, ele disse ter sido empurrado, socado e arrastado até uma viatura sem sequer entender o motivo. “Eles vieram com um viés na cabeça de que era um preto em um lugar em que preto não pode estar. Se estiver, é porque está roubando. Por isso que teve tanto espancamento”, relatou Ueslei. Leia também: VOVÓ DO CRIME: Idosa é detida após série de furtos no litoral de SP PREJUÍZO: Urubu cai do céu e destrói carro estacionado no litoral de SP; VÍDEO HOMICÍDIO: Suspeito de matar japonês de 86 anos com 'requintes de crueldade' é preso Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, o coronel disse que os PMs envolvidos foram afastados das funções operacionais e do atendimento ao público. "Foi instaurado um inquérito policial militar", complementou. De acordo com o coronel, a prefeitura confirmou à corporação ter imagens sobre o caso gravadas pelas câmeras de monitoramento. O comandante do CPI-6 acrescentou que os conteúdos foram analisados e Ueslei não apresentou nenhuma resistência física à abordagem. "O PM acaba utilizando de força física para contê-lo junto ao chão. Entendemos ali que não houve uma ação de acordo com os nossos princípios, de acordo com os nossos valores, de acordo com nossos procedimentos", disse Nery. O coronel também afirmou que o petroleiro foi agredido pelos policiais na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). "Novamente não verificamos nas imagens nenhuma ação física por parte do Ueslei em relação ao policial, que volta a golpeá-lo dentro da UPA". (veja a entrevista abaixo). Operação Verão é realizada na Baixada Santista e Vale do Ribeira, SP Boletim de ocorrência O boletim de ocorrência (BO) foi registrado com a versão dos policiais. Conforme descrito no documento, os agentes foram acionados após o alarme da farmácia disparar. Ueslei estava no estacionamento do comércio passeando com os gatos de estimação. Segundo o BO, o petroleiro obedeceu às primeiras ordens para ficar em pé e levantar a camiseta, mas depois questionou a abordagem e caminhou em direção às autoridades, levando um tapa na cara. Ainda segundo o registro, os policiais precisaram contê-lo para evitar uma fuga. No BO também consta que o petroleiro xingou os agentes de "filhos da p*", entre outras ofensas. Versão de Ueslei Ao g1, o homem contou que tentava fazer os gatos se acostumarem com a rua e, por isso, levou os felinos para passear durante a madrugada, quando não há movimento. Ueslei disse que mora a uma quadra de distância da farmácia e, na ocasião, caminhou até o estacionamento para soltar os animais. “Eles saíram da caixa de transporte e passearam porque realmente de noite é mais silencioso”, complementou. O petroleiro relatou que ficou sentado por alguns minutos no degrau da farmácia até ver uma viatura se aproximar. "Um deles [agentes] já estava com a arma em punho e mandou eu colocar a mão para trás e virar", lembrou. Segundo Ueslei, o tapa na cara foi dado por um dos policiais após ele perguntar "o que estava acontecendo". Ainda de acordo com o relato, os agentes foram violentos e sequer questionaram o nome dele. "Foi o tempo de colocar os gatos na mochila e começou o espancamento", comentou. De acordo com o petroleiro, um dos policiais se jogou em cima dele para algemá-lo. “Começou a me puxar pelo braço, fui arrastado no chão. Fui jogado para lá e para cá com um saco de batata”, relembrou. Ueslei acrescentou que foi colocado no porta-malas da viatura sem poder dizer o próprio nome, a profissão ou o endereço às autoridades. Ueslei Abreu das Neves foi abordado enquanto levava gatos para passear em Santos (SP) Arquivo pessoal Porta-malas O petroleiro disse ter ficado dentro do porta-malas da viatura por bastante tempo. Segundo o relato, ele viu o veículo estacionar em um local que aparentava ser o batalhão da PM, mas não desceu. “Não sei quanto tempo ficamos parados. Mas depois voltaram e andavam com a viatura em uma certa velocidade. Tinha hora que virava na curva e eu era jogado de um lado para o outro dentro do porta-malas, não sei se foi proposital”, afirmou. Ueslei relatou ter sido levado pelos agentes à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central. Ele pontuou, no entanto, que não foi atendido no local, uma vez que o médico se recusou a examiná-lo. Após a passagem na UPA, ele foi liberado e voltou para a viatura. “Fui empurrado até o carro, como se eu não falasse português, não pudesse ser interpretado”, detalhou. Delegacia Ueslei Abreu das Neves foi detido após ser acusado de desacato por policiais em Santos (SP) Arquivo pessoal O petroleiro disse ter sido levado para a Central de Polícia Judiciária (CPJ) da cidade, onde sofreu mais agressões. “Estava com os dois braços amarrados para atrás, com algema, e fui arrancado do porta-malas. Cai no chão e fui arrastado até levantar. Quando levantava, era empurrão. Acharam que estavam prendendo bandido”, desabafou. O homem contou que agentes da Polícia Civil assistiram às cenas de violência, mas não interviram. Um deles, inclusive, teria dado um tapa na mão dele após pegar o celular para pedir ajuda a amigos. Ueslei relatou que teve o celular apreendido na delegacia O aparelho, segundo ele, só foi devolvido quando informou sobre os documentos online. Ele afirmou não ter prestado depoimento. “Depois a delegada apareceu com o boletim de ocorrência pedindo para eu assinar”, pontuou Ueslei. O homem disse ter assinado o documento sem ler, uma vez que se sentiu pressionado. Ueslei Abreu das Neves ficou com marcas das agressões no corpo Arquivo pessoal Racismo Ao g1, Uslei disse que acredita ter sido vítima de racismo por ser um homem preto que estava em uma região nobre de Santos durante a madrugada. “Sou concursado, eu fiquei anos estudando para ser aprovado no concurso, para ter condições de morar lá. Eu moro porque eu tenho condições, eu não estava roubando. Eles deveriam se comunicar comigo primeiro”, afirmou. De acordo com ele, pessoas brancas também estavam na região, mas não levantaram suspeita dos agentes. Ueslei acredita, inclusive, que a equipe policial tenha notado o erro quando estava na delegacia e viu a qualificação dele. “Eu via que eles tinham percebido o tamanho da confusão que essa polícia mal treinada fez [...]. Vão vir outros pretos para o [bairro] Gonzaga. Eu sinto um desejo de abrir o caminho para eles e de mostrar para a polícia que vai ter muito preto que não estará roubando”, desabafou. O homem contratou uma advogada para entrar na Justiça após o ocorrido. Em nota, a defesa constituída por Anna Fernandes Marques informou que procura as imagens das câmeras de monitoramento para comprovar as alegações dele. "A defesa espera a apuração, afastamento imediato das ruas e punição da conduta dos policias, haja vista o total despreparo em lidar com a população, utilizando de violência desmedida, como largamente exposto nos últimos tempos”, declarou a advogada. Respostas Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o 7º Distrito Policial de Santos investiga a ocorrência e a PM também apura o caso por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). Em relação à denúncia de Ueslei sobre a recusa de atendimento na UPA, a Prefeitura de Santos informou que informações do tipo devem ser esclarecidas pela Insaude, pois a organização social é responsável pela gestão da unidade. Apesar disso, a administração municipal afirmou que todas as unidades geridas por organizações sociais passam por avaliação periódica em relação ao cumprimento de metas quantitativas e qualitativas. VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
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